Quem nunca perguntou ao professor: "Por que estou estudando isso?" Eu já, e mais de uma vez. Alguns tópicos da matemática me pareciam tão inúteis....
Uma vez, o matemático americano Roy James Newman (1907-1996) escreveu: " A coisa mais dolorosa sobre a matemática é quão longe estamos de ter a capacidade de usá-la logo depois de aprendê-la." Isso é um jeito mais elaborado de dizer: "Aprendemos matemática para nada, ou assim nos parece." Pensando bem, essa não é uma característica exclusiva da matemática: o estudante de música só consegue tocar bem as escalas mais simples quando está treinando as mais complexas; o enxadrista só consegue usar bem as aberturas mais simples quando está estudando as aberturas de grandes mestres russos. Se essa característica existe em outras áreas da vida, por que Newman a achava " a coisa mais dolorosa da matemática"?

"Talvez porque a matemática possa ser comparada a uma macieira mágica: olhando de longe, as maçãs parecem todas maduras e lindas. O sujeito se aproxima da macieira e tenta puxar uma maçã, mas ela não se desgruda do galho; ele apoia o pé no tronco da árvore, faz uma força danada e horas depois colhe uma delas, que se transforma na mesma hora numa maçã de metal - linda, mais inútil. O sujeito guarda essa primeira maçã numa caixa e volta à macieira outras vezes para, com grande esforço, colher mais seis maçãs. Um dia ele colhe a sétima, e de repente a primeira se transforma numa maçã comestível.Para ser três maçãs úteis, ele deve colher 21 maçãs e guardar 18 maçãs metálicas na caixa - 18 maçãs lindas mas inúteis.
Newman falava mais ou menos disso. Chame as maçãs metálicas de "matemática inútil" e as maçãs comestíveis de "matemática útil". Parece contraditório, mas não é: a matemática que estudamos e conseguimos usar é sempre uma parcela da matemática que estudamos e ainda não sabemos direito para que serve. Muito do que estudamos no ensino básico só vamos usar na faculdade, e muito do que estudamos na faculdade só vamos usar na pós-graduação. Então, quando fiz a pergunta inevitável a meus professores, eles poderiam ter me dito em resposta:
- Para que você consiga usar a matemática que estudou tempo atrás.
Carta ao Leitor - Márcio Simões (editor)
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